Cannabis: não é porque é natural que é oba oba

Cannabis: não é porque é natural que é oba oba

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Temos o péssimo hábito de dizer que algo é inofensivo porque é natural e nos esquecemos que o césio também é e nem por isso não causa danos à saúde. Isso vale também para aquele chazinho bobo que pode tanto acalmar uma pessoa quanto provocar um aborto em uma gestante. A natureza pede respeito e responsabilidade e isso vale muito para a maconha.

Eu entendo a necessidade de quem é a favor da Cannabis de tentar mostrar para quem ainda acha que Cannabis queima neurônio que a planta não faz mal, afinal: “Uma erva natural não pode te prejudicar”. A maconha pode não matar, mas isso não significa que ela não tenha seu poder de toxidade, que pode levar a efeitos colaterais nada agradáveis, como náuseas, vômitos, tontura e paranoias diante, principalmente, do consumo em demasia do psicoativo, o THC.

A Cannabis é uma substância segura sim, mas existem muitos tipos de ‘maconhas’ e cada um vai atender a uma necessidade. É isso que ainda nos falta no Brasil: conhecimento sobre o que está sendo consumido. Isso vale tanto para o uso adulto quanto para o uso terapêutico.

Quanto ao uso adulto eu nem preciso dizer. Esses prensados que vendem por aí nem sei se podemos chamar de maconha. Acho até um desrespeito. É tanta substância misturada, inclusive drogas como o crack, que se a Cannabis fosse uma pessoa ela entraria com uma ação na Justiça por calúnia, injúria e difamação.

Os óleos artesanais também não fogem muito. Entendo a boa intenção de jardineiros e jardineiras que fazem o óleo e vendem por preços mais baixos, visando aumentar a acessibilidade do produto. Já ouvi muito paciente chamar essas pessoas de anjos. E não contesto. Porém, mesmo sabendo o tipo de cepa que está sendo plantada para a fabricação do produto, essa pessoa precisaria ter um amplo conhecimento de prescrição para garantir que aquela maconha usada serve para tratar determinado tipo de doença.

Geralmente, os óleos artesanais possuem altas taxas de THC. Aí, quem está querendo tratar uma ansiedade toma um desse e pronto: desencadeia um processo ainda maior do transtorno e acha que a Cannabis não é para ela, quando na verdade ela só usou o óleo errado. Aí, o que era para ajudar, atrapalha. Essa mesma pessoa vai contar sua experiência por aí, o que pode, por fim, afastar outras pessoas da possiblidade de começar a terapia canabinoide.

E mesmo quem faz uso adulto e planta, nem sempre sabe a composição química da Cannabis que vai fumar. Geralmente são plantas também com altas taxas de THC, afinal, a finalidade é entrar na onda. Porém, até mesmo quem está a fim de fumar um para curtir pode viver experiências nada agradáveis porque fumou a cepa “errada”.

Então, não é porque a maconha é natural que seu uso deve ser feito de forma indiscriminada, seja lá qual for a finalidade. Essa erva é poderosa e todo poder precisa ser administrado com responsabilidade. Lembrando que o momento é delicado e qualquer deslize da parte de quem apoia o uso da Cannabis pode ser usado como munição contra o próprio movimento por conservadores ignorantes e hipócritas.

O melhor cala boca que podemos dar nessa galera é o conhecimento. E não precisa ser apenas acadêmico. A troca de informações entre jardineiros e jardineiras, pacientes, ativistas e afins também é de muita valia. Bora sair de argumentos rasos como: “é natural, não faz mal” e nos munir de informações em todas as frentes disponíveis.

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