Ao invés de matar neurônios, a cannabis estimula novas conexões cerebrais. No entanto, isso pode ser ruim entre os mais jovens.
Crescemos com o conceito de que a cannabis pode prejudicar a mente dos adolescentes, e de fato pode. Contudo, é preciso entender quais os fatores certos para que isso aconteça.
Esqueça a ideia de que a cannabis mata neurônios, até cola de sapato pode causar a morte destas células, mas não a cannabis. Na verdade, a cannabis ajuda a criar novas conexões cerebrais, o que estimula a produção de neurônios.
Contudo, para a mente de adolescentes que já fazem este tipo de conexões muito bem, o incentivo pode ser prejudicial. Pelo menos é o que dizem dois estudos divulgados recentemente.
Prejuízo na tomada de decisões
Segundo uma pesquisa realizada na Universidade de Vermont em Burlington, nos Estados Unidos, a cannabis na adolescência pode prejudicar o desenvolvimento do cérebro, principalmente na região relacionada à orientação e tomada de decisões.
Para chegar a esta conclusão, o estudo escaneou cerca de 800 cérebros de jovens na Irlanda, Alemanha, França e Inglaterra. No primeiro exame, todos tinham 14 anos e nunca tinham consumido a substância.
Após cinco anos eles fizeram um segundo exame, onde 46% deles relataram o consumo da erva. Os pesquisadores perceberam que uma parte do cérebro havia mudado, tanto em comparação com o primeiro escaneamento quanto em relação aos demais participantes.
A área afetada foi a região atrás da testa e acima dos olhos, chamada córtex pré-frontal. Em adolescentes, ela tende a “afinar” para que o cérebro seja mais eficiente, contudo, o processo se acelerou em jovens que consumiram a planta.
Segundo os cientistas, esse amadurecimento precoce pode causar problemas duradouros na memória e no comportamento do indivíduo.
Esperar pelo menos a maioridade
Segundo outra pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association em junho deste ano, os adolescentes devem esperar pelo menos, até completarem 18 anos para utilizar maocnha.
A taxa de adição à cannabis é maior entre adolescentes de 12 a 17 anos (10,7%) que em jovens de 18 a 25 (6,4%) e a porcentagem de dependência dois anos após o uso também.
De acordo com o estudo, o número de dependentes depois de dois anos também subiu e é quase o dobro dos jovens adultos.
É importante ressaltar que ambos os estudos não são evidências suficientes e, portanto, precisam de mais investigações.
A cannabis é mais indicada para velhos que jovens
No dia 25 de agosto, nós fizemos uma live com o neurocientista e professor do Instituto do Cérebro Sidarta Ribeiro, que falou um pouco sobre o assunto.
Segundo ele, há demonstrações bem consolidadas de que o uso precoce na adolescência pode ser sim prejudicial para a cognição e desenvolvimento acadêmico.
Segundo ele, os jovens já apresentam muitas conexões e é exatamente por isso que os devem esperar, porque o excesso de neurônios e conexões pode ser prejudicial.
“Já os idosos podem e devem se beneficiar dessa reposição porque o Sistema Endocanabinoide, pois ele começa a decair depois de um tempo. Uma cognição que não era tão boa aos 20,30, pode não ser tão boa aos 60, 70.”, acrescentou.