Exposição adolescente à maconha não está associada à psicose na idade adulta, diz estudo

Exposição adolescente à maconha não está associada à psicose na idade adulta, diz estudo

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

A psicose no início da idade adulta não está ligada ao uso de cannabis durante a adolescência, de acordo com uma pesquisa recente que analisou dados longitudinais de controle cogêmeo

Uma série de reportagens sensacionalistas da mídia comercial que destorcem os resultados de estudos sobre cannabis psicose — sugerindo que a planta é a causa da doençaado, quando na verdade os pesquisadores ainda sabem ao certo se é a maconha que desencadeia a condição ou se os portadores da síndrome neurológica procuram a substância para autotratar seus sintomas — há tempos vem criando uma cortina de fumaça no debate sobre a cannabis e sua relação com a saúde mental.

A psicose pode ser definida como um estado mental onde o indivíduo perde a conexão com a “realidade”, manifestando-se através de alucinações ou delírios. A psicose induzida pela cannabis, se existir, seria uma desconexão da realidade que ocorre durante o uso de cannabis, ou logo depois.

“A psicose induzida pela cannabis surgiu como um efeito colateral raro, mas sério, a ser considerado”, diz um artigo da Healthline revisado por Jeffrey Chen, médico e fundador da Iniciativa de Pesquisa de Cannabis da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Contudo, ele acrescenta que “enquanto há uma ligação forte entre o uso de cannabis e a esquizofrenia, os especialistas ainda precisam descobrir a natureza exata desse vínculo”.

Entretanto, mesmo com essa lacuna no que diz respeito à causalidade, muitas manchetes sensacionalistas e personagens proibicionistas insistem em afirmar, por conta e risco, que a cannabis causa transtornos psicóticos.Logo, a pesquisa médica ainda não sabe dizer se a cannabis causa psicose ou exacerba os sintomas subjacentes — a única coisa que se sabe é que há no máximo uma correlação, que não implica em causalidade.

Um artigo publicado pela epidemiologista britânica Suzanne Gage, na revista The Lancet, demonstra que esquizofrênicos crônicos e pessoas que sofrem surtos de psicose têm mais chances de serem usuárias crônicas e pesadas de cannabis de alta potência. Contudo, o estudo revelou que pessoas sujeitas a ter surtos psicóticos ou desenvolver esquizofrenia buscam a cannabis mais do que a média da população, sem encontrar indícios de que a planta cause esquizofrenia.

Agora, mais um estudo refuta a teoria “reefer madness” de que maconha causa psicose.

De acordo com uma análise longitudinal de controle cogêmeo publicada no Journal of Abnormal Psychology, a exposição à cannabis durante a adolescência não está associada à psicose de início na idade adulta ou a sinais de esquizofrenia.

Pesquisadores da Associação Americana de Psicologia analisaram dados de duas coortes de gêmeos que completaram medidas repetidas e prospectivas de uso de cannabis e sintomas de transtorno por uso de cannabis na adolescência e uma medida dimensional de propensão à psicose na idade adulta. Os gêmeos também forneceram dados genéticos moleculares, que foram usados para estimar o risco poligênico de esquizofrenia.

A análise dos dados não encontrou evidências de um efeito da cannabis no psicoticismo ou em qualquer uma de suas facetas em modelos de controle de cogêmeos que compararam o gêmeo que usa mais maconha com o gêmeo que usa menos. Também não observou evidências de um efeito diferencial da cannabis no psicoticismo pelo risco poligênico de esquizofrenia.

“Estudos epidemiológicos mostraram repetidamente que indivíduos que usam cannabis são mais propensos a desenvolver transtornos psicóticos do que indivíduos que não o fazem. Tem sido sugerido que essas associações representam um efeito causal do uso de cannabis na psicose, e que o risco de psicose pode ser particularmente elevado quando o uso ocorre na adolescência ou no contexto de vulnerabilidade genética. Este estudo, no entanto, não suporta essas hipóteses, sugerindo, em vez disso, que as associações observadas são mais prováveis devido à confusão por fatores comuns de vulnerabilidade”, relataram os autores no artigo.

Os pesquisadores concluíram que “embora o uso e o transtorno por uso de cannabis estejam consistentemente associados ao aumento do risco de psicose, os presentes resultados sugerem que essa associação é provavelmente atribuível a confundimentos familiares, e não a um efeito causal da exposição à cannabis”.

Dito isso, os autores do estudo advertem que “esforços para reduzir a prevalência e a carga de doenças psicóticas podem se beneficiar de um maior foco em outros alvos terapêuticos”.

O resultado da análise não nos surpreende, uma vez que a cannabis pode até mesmo ser uma opção de tratamento eficaz para a esquizofrenia.

Um estudo conduzido pelos cientistas Jegason P. Diviant e Jacob M. Vigil, do Departamento de Psicologia da Universidade do Novo México (EUA), e Sarah S. Stith, do Departamento de Economia da universidade, revisou dados anteriores sobre o impacto de fatores ambientais, particularmente o efeito da atividade autoimune, na expressão de perfis esquizofrênicos, bem como explorou o papel da terapia com cannabis na regulação da função imunológica.

Os resultados do estudo revelaram que a cannabis pode oferecer um tratamento eficaz para a esquizofrenia, isoladamente ou em conjunto com outros medicamentos.

“Uma revisão da literatura mostra que o consumo de fitocanabinoides pode ser uma opção de tratamento seguro e eficaz para a esquizofrenia como terapia primária ou adjuvante”, escreveram os autores do estudo.

“Pesquisas emergentes sugerem que a cannabis pode ser usada como um tratamento para a esquizofrenia dentro de uma perspectiva etiológica mais ampla que enfoca as causas ambientais, autoimunes e neuroinflamatórias do distúrbio, oferecendo um novo começo e novas esperanças para aqueles que sofrem desta doença debilitante e mal compreendida”, segundo o relatório.

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