Por que a classe dos médicos não falam sobre Cannabis?

Por que a classe dos médicos não falam sobre Cannabis?

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Conversamos com a médica ortomolecular Janaína Barboza sobre como a escassez de conhecimento sobre a planta prejudica os brasileiros

Apesar das propriedades medicinais da cannabis começarem a ser descobertas pelo meio científico na década de 1960, a planta só começou a ser popularizada nos últimos anos, depois da briga de famílias que só conseguiram se tratar através de medicamentos extraídos da planta.

No Brasil, o tema ainda caminha a passos lentos, principalmente por causa do forte preconceito e da desinformação.  

O documentário Ilegal, por exemplo, foi um divisor de águas na vida de muita gente que até então, nem sabia que a planta tinha propriedades medicinais.

Estima-se que cerca de 12 mil pessoas usem a cannabis medicinal hoje no país. No entanto, as propriedades da planta poderiam chegar bem mais longe se o Brasil tivesse políticas mais maduras em relação à cannabis medicinal.

Conversamos com a médica ortomolecular, Dra Janaína Barboza, que bateu um papo sobre a falta de informação nesse assunto, principalmente no meio médico. 

Confira a entrevista completa:

A doutora conta que quando conheceu a planta, foi difícil encontrar artigos sobre o tema aqui. Ela precisou pesquisar bastante lá fora, mas sabia que nem todos tinham esta oportunidade.

Por isso hoje  Janaína dá aulas sobre Sistema Endocanabinóide tanto para profissionais da área de saúde e também qualquer um que deseje aprender, a fim de expandir a informação sobre a cannabis. 

“Eu falo de maneira descontraída, de uma forma que as pessoas entendam. A gente tem que falar com uma linguagem acessível.” Acrescenta.

O sistema endocanabinóide faz a comunicação entre o cérebro e os processos do organismo. Ele permite a coordenação entre as células, o que equilibra vários processos cognitivos e fisiológicos, como por exemplo a apetite, humor, inflamações, memória, estresse e muito mais.

Para conferir todos os detalhes do nosso sistema regulador, acesse o nosso artigo que explica tudo sobre o sistema endocanabinóide.

 

O sistema está por todo o corpo e age de maneiras diferentes, mas o seu principal objetivo é regular a homeostase, ou seja, a estabilidade das funções.

Um sistema pouco conhecido

A doutora comentou que dentro da área médica, ela começou a se deparar com doenças crônicas e degenerativas difíceis de solucionar, mas que depois da descoberta deste novo sistema, passaram a ter um novo olhar.

“Quando eu descobri a terapia canabinóide, eu logo pensei: então quer dizer que existe uma base química que orquestra todo o corpo humano e a gente nem sabia? Isso redesenha a medicina.” Comenta.

O Sistema Endocanabinóide só foi descoberto através das investigações sobre substâncias chamadascanabinóides encontrados na cannabis, por isso o nome é tão parecido. 

A médica explica a importância da cannabis para as pessoas com uma analogia de chaves, que se encaixam perfeitamente no nosso organismo auxiliando como uma espécie de reforço.

No entanto, ela teve que descobrir tudo isso sozinha, com muito esforço e por conta própria. Ela inclusive, procurou o Conselho Federal de Medicina (CFM) para questionar porquê não ensinavam isso nas faculdades.

“Eu me formei em 2007, e lembro que tinha uma matéria que nós tínhamos que fazer um artigo científico, onde escolhi a cannabis. O meu professor deu uma risada e disse que não era possível, pois teria que ter a polícia guardando… foi o primeiro balde de água fria que eu recebi na cabeça, porque eu não podia nem estudar sobre o tema. 

Ela diz que no Brasil, não há uma força centralizada de médicos “canábicos”, porque também não são ensinados, o que consequentemente, gera atraso nesta questão para o Brasil. Por isso, muita gente que poderia estar se beneficiando com o tratamento alternativo, acaba perdendo a oportunidade.

Benefícios

A médica ortomolecular comentou também que além dos benefícios em problemas crônicos, a cannabis foi um forte aliado na crise de opioides que aconteceu nos Estados Unidos.

A dependência resultada em overdose de medicamentos, inclusive receitados por médicos, matou mais de 63 mil pessoas, isso só em 2016 no país.

Diferente do que todos pensam, a cannabis pode serútil para vícios químicos. Quando os canabinóides da planta cannabis entram no nosso corpo e interagem com os nossos canabinóides internos (chamados de endocanabinóides), juntos podem recuperar o equilíbrio, reduzindo gradativamente a compulsão pelos efeitos químicos, porque auxilia na regularização dos neurotransmissores.

Isso explica também porque não é possível uma pessoa ter uma overdose de maconha, por exemplo.

“A gente escutou por umas quatro gerações que a cannabis é a porta de entrada para outras drogas, mas é mentira.  O cérebro vai à procura de uma folha que nos faz muito bem. Nós temos um sistema feito para usar esta substância, isso é seguro, foi testado.” Acrescenta.

Acesso limitado

Não só o acesso à planta, quanto ao acesso à informação é restrito no país, o que consequentemente afeta na prescrição. 

A Dra. Janaína complementa que receitar cannabis não é tão simples, fatores como o paciente, o grau de doença, a idade, e até fatores internos, como genética e metabolismo são primordiais no processo de prescrição.

No entanto, até os canabinóides mais conhecidos, CBD e THC,  ainda são um desafio no Brasil, pela necessidade de mais estudos, debates, dados e abordagens..

“Saber dessas coisas poderia ajudar a medicar de forma ainda mais precisa, pois conhecendo cada planta e seus níveis de compostos diferentes, dá pra saber o que mais funciona para o paciente.”

Apesar de tudo, a médica é otimista. Por isso continua dando aulas e palestras a fim de disseminar a informação correta sobre cannabis medicinal. Ela ainda complementa que a cannabis não deve ser pautada apenas na saúde, mas em vários outros setores.

A cannabis precisa ser discutida não só na medicina, mas em todos os lugares, na polícia, na OAB, no meio industrial, na agroecologia, pois a planta pode salvar o planeta terra.” Conclui.

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