Dezembro vermelho: É preciso considerar a cannabis medicinal para HIV/Aids

Dezembro vermelho: É preciso considerar a cannabis medicinal para HIV/Aids

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Inspirados pelos corajosos pacientes com Aids e por seus cuidadores, pesquisadores, cientistas e a indústria farmacêutica resolveram avaliar a Cannabis medicinal com mais atenção no contexto do HIV e da Aids.

Atualmente, inúmeras evidências científicas baseadas em pesquisas elucidaram como e por que específicos canabinoides beneficiam esses pacientes. Cientistas de Boston coletaram informações de 775 pessoas vivendo com HIV/Aids que sofriam com seis sintomas comuns: ansiedade, depressão, fadiga, diarreia, náuseas e neuropatia periférica.

Este foi um dos maiores estudos já realizados e os participantes eram do Quênia, África do Sul, Porto Rico e de dez diferentes localizações dos EUA. Os resultados demonstraram que, apesar de as diferenças serem relativamente pequenas, a Cannabis foi mais eficaz que as prescrições médicas habituais e os produtos vendidos sem prescrições médicas em cinco dos seis sintomas estudados (ansiedade, depressão, diarreia, fadiga e neuropatia).

Cannabis para os efeitos colaterais

A Cannabis foi discretamente menos eficaz notratamento de náuseas (Corless, 2009). A TARV (terapia antirretroviral) tem se mostrado eficaz em reduzir a progressão do HIV para Aids, porém com muitos efeitos colaterais. Eles podem ser leves, como náuseas, vômitos e diarreia, como mais graves, incluindo doença cardiovascular e dor neuropática.

Vários estudos mostraram que a Cannabis medicinal pode reduzir ou mesmo eliminar esses efeitos dversos indesejáveis. Pacientes com Aids que a utilizam têm relatado melhora significativa no apetite, nos níveis de dor muscular, náuseas, ansiedade, depressão e formigamento da pele.

Ela também ajuda a combater a perda de peso e previne a atrofia muscular. O uso regular da Cannabis medicinal ajuda na dor neuropática crônica que atormenta a maioria dos pacientes com Aids.

O diretor do Centro de pesquisas em HIV/Aids, da Universidade da Califórnia, o psiquiatra Igor Grant, observou que pacientes portadores de neuropatia obtêm alívio com o uso de Cannabis: “Como não temos medicamentos eficazes para esse tipo de tratamento, utilizam-se antiepilépticos e antidepressivos com feito moderado na maioria dos pacientes. “

Útil para barrar a proliferação do vírus

O importante é que a Cannabis é tanto ou mais eficaz que os medicamentos tradicionais. Cannabis medicinal talvez ainda mais interessante seja uma nova linha de pesquisa sugerindo que o THC (tetra-hidrocanabinol), um dos ingredientes ativos na Cannabis medicinal, pode bloquear a propagação do vírus HIV durante os estágios tardios da infecção.

O THC funciona com a segmentação dos receptores CB2 no cérebro, ativando-os para construir novas células bacterianas saudáveis que bloqueiam o vírus, impedindo-o de atravessar as paredes celulares.
Em essência, o HIV mata as células que protegem as paredes e o THC as traz de volta. Macacos que foram infectados com uma forma animal do vírus HIV e tratados com THC por 17 meses mostraram uma diminuição de danos ao tecido imunológico do estômago.

O dronabinol, vendido sob a marca de Marinol® , é uma droga sintética, um composto químico criado pelo homem em laboratório em que se usou o processo de fabricação de drogas, ou seja, um THC sintético indicado no tratamento de anorexia associada à perda de peso em pacientes com HIV/Aids e câncer.

O Marinol® não contém nenhum produto natural da Cannabis, embora seja considerado um canabinoide. Ele foi introduzido no mercado em 2004. Quando comparado com a Cannabis medicinal deixa muito a desejar. O Marinol® não é tão efetivo quanto o extrato da planta da Cannabis como um todo.

Além disso, possui efeitos colaterais como alucinação, o efeito “high” ou “chapado” e paranoia. Uma revisão sistemática Cochrane de sete estudos controlados e randomizados comparados com placebo em pacientes com HIV/Aids, utilizando Cannabis medicinal durante 21 a 84 dias, mostrou melhora significativa no apetite, peso, desempenho e temperamento (Lutge, 2013).

Bibliografia

Pesquisas científicas

  • Efeitos a curto prazo de canabinoides em pacientes com infecção pelo HIV-1: ensaio clínico
    randomizado e controlado por placebo (Abrakms, 2003).
  • Uso de Cannabis no HIV para dor e outros sintomas médicos (Woolridge, 2005).
  • Dronabinol e Cannabis em fumantes de maconha HIV positivos: efeitos agudos na ingestão
    calórica e humor (Haney, 2005).
  • Cannabis em neuropatia sensorial dolorosa associada ao HIV: um estudo randomizado
    e controlado por placebo (Abrams, 2007).
  • Cannabis é eficaz no tratamento de ansiedade, depressão, diarreia, fadiga e
    neuropatia (Corless, 2009).
  • Atenuação mediada pelo receptor canabinoide 2 na infecção por HIV trópico CXCR4
    em células T CD4 + primárias (Constantino, 2012).
  • Canabinoide inibe a adesão estimulada por Tat-HIV-1 de células humanas
    semelhantes a monócitos e a proteínas da matriz extracelular (Raborn, 2012).
  • O consumo de maconha não acelera a progressão da doença hepática na coinfecção
    pelo HIV-hepatite C: uma análise de coorte longitudinal (Brunet, 2013).
  • Nenhum efeito significativo do uso de Cannabis na contagem e porcentagem de
    células T CD4 circulantes em pacientes coinfectados com HIV-HCV (coorte francesa
    ANRS CO13-HEPAVIH) (Marcellin, 2016).
  • Efeito da Cannabis: utilização na imunodeficiência viral em humanos durante
    supressão da terapia antirretroviral (Chaillon, 2019)

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