‘O meu tratamento não é só o óleo final, mas também o cultivo’, diz paciente que planta o próprio remédio

‘O meu tratamento não é só o óleo final, mas também o cultivo’, diz paciente que planta o próprio remédio

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Hoje, Luiz não só cultiva cannabis em casa, mas também ensina outros pacientes a plantar e extrair o óleo 

“O meu tratamento não é só o óleo final, mas também o cultivo”, diz paciente que planta o próprio remédio
“O meu tratamento não é só o óleo final, mas também o cultivo”, diz paciente que planta o próprio remédioFoto: Arquivo Pessoal

Há alguns anos, Luiz Grasseschi passou a usar cannabis para ajudar a tratar a depressão, pois os tratamentos tradicionais não ajudavam. Mal sabia ele que anos depois, estaria ministrando aulas sobre o cultivo e extração da planta. 

Hoje, com 46 anos, Luiz cultiva o seu próprio remédio de forma legal e há três anos, passou a ensinar outras pessoas a plantarem. Também é criador de conteúdo canábico desde 2017 com a Natural Mystic Ganja e idealizador junto com a Ganzá da comunidade Grower Maker.

 “A minha luta hoje, mesmo que seja um ativismo de formiguinha, é mostrar para a sociedade de que não tem nada de errado na planta, não tem nada de errado no auto cultivo”, ressalta. 

Quando os remédios não funcionam

Grasseschi começou a utilizar maconha quando tinha 20 anos, mas nunca pensou na planta como um remédio. Usava apenas de maneira recreativa, para descontrair com os amigos. Mas foi depois de uma depressão que ele passou a olhar a cannabis com outros olhos. 

Por volta de 2010 o criador de conteúdo passou a utilizar remédios controlados para controlar a condição. Eram remédios para dormir, ansiolíticos e antidepressivos que estavam fazendo mais mal do que bem. 

Além dos efeitos colaterais, Luiz não via nenhum resultado. “Foram uns dois, três anos nessa luta”, conta.

Foi depois que conheceu a associação canábica Santa Cannabis que as coisas começaram a mudar. Trata-se de uma associação de Santa Catarina, que ajuda pacientes a se tratarem com cannabis medicinal. 

Depois de anos e anos atuando por meio de desobediência civil, a instituição finalmente obteve o direito de cultivar em fevereiro deste ano, tornando-se a terceira a obter o direito de plantar cannabis no Brasil.

Dificuldade em achar um médico

Os resultados apareceram de forma rápida e não demorou muito para que o criador de conteúdo abandonasse as tarjas vermelhas para ficar apenas com o óleo de cannabis. 

Mas ele não queria depender de empresas ou associações para se tratar, queria plantar o próprio remédio. “Já nas minhas primeiras extrações caseiras eu tive um resultado fantástico. Os primeiros óleos que eu extraí me deram uma estabilização muito grande”, ressalta.

Ainda assim, ele precisava ser acompanhado por um médico para indicar as concentrações certas e quais as dosagens que ele teria que ingerir. Diferente do que muitos pensam, a cannabis não é um remédio como os outros, mas as doses dependem do organismo de cada paciente.

Mesmo tratando a mesma condição, a concentração e até os níveis de substâncias contidas na cannabis podem variar para cada paciente. Mas, na época, encontrar um médico que fizesse isso, não era tão fácil.

Mas ele encontrou. E relata que foi um divisor de águas. 

Cultivo como terapia

Não foi só o óleo da cannabis que o ajudou a controlar a depressão, ansiedade e o sono, mas também o simples fato de cultivar. Luiz conta que por a mão na terra também virou a sua terapia.

“É muito produtivo para a mente, pois desenvolve a paciência e o equilíbrio. Eu acho que o meu tratamento não é só o óleo final, é também o autocultivo, é o dia a dia, com a planta, a observação”, complementa.

E foi essa paixão pelo manejo da planta que o fez concordar em ensinar outras pessoas a plantarem também.  Em 2020, Grasseschi passou a ministrar um curso de cultivo e extração para a associação Santa Cannabis. 

Pelas suas contas, mais de 1 mil pessoas já assistiram as suas aulas. “Foi uma experiência para abrir a mente, desde a primeira edição do curso há dois anos atrás. Justamente porque são pessoas, mães, pais, avós que fazem o remédio para os filhos”, acrescenta.

“O meu tratamento não é só o óleo final, mas também o cultivo”, diz paciente que planta o próprio remédio Foto: Arquivo Pesoal

Conquistando o Habeas Corpus

Apesar de cultivar e ministrar aulas sobre o assunto há anos, até pouco tempo Luiz ainda não tinha obtido o habeas corpus, que dá o direito de cultivar sem ser preso. O documento é uma espécie de salvo-conduto, que protege alguém que planta cannabis para fins medicinais.

O documento foi obtido no último mês através de uma ação judicial e o criador de conteúdo se juntou a centenas de pessoas que já obtiveram o aval para cultivar em casa.

De acordo com o advogado Davi Pinheiro Marques Cantanhede, que cuidou do caso, a maioria das pessoas recorrem ao método porque não tem condições de bancar o tratamento, que pode ser bem caro dependendo do produto e da concentração.

“Não é meramente o direito à saúde que a pessoa está buscando, mas também um direito à privacidade, autonomia de ir atrás do seu tratamento da melhor forma possível”, diz.

Com ou sem medo

Luiz conta que recorrer ao habeas corpus, foi uma maneira de se sentir mais seguro. Querendo ou não, a exposição de falar abertamente sobre o tema trouxe a Grasseschi o medo de ser um alvo. 

Antes mesmo de ministrar as aulas, a exposição para a própria família foi um processo difícil.

“O cultivador acaba vivendo com medo. Em 2017 eu tinha medo da minha própria sombra, quando passa um helicóptero perto de casa eu fecho a janela, sabe aquela tensão? Ainda tenho dificuldade de receber visita, de me olharem torto, de não entenderem o processo”, desabafa. 

Por isso, ele conta que a sua missão de ensinar outras pessoas é fundamental. Apesar de saber dos riscos, um paciente ou familiar que precisa do tratamento, não vai se importar se é errado ou não.

“Todas as pessoas, sem exceção, têm uma qualidade de vida (com a cannabis) e não medem esforços. Então vão correr riscos, uma mãe com o filho autista, você acha que ela vai pensar em plantar mesmo tendo problemas jurídicos?”, indaga.

Consulte um profissional

É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um profissional de saúde habilitado, que poderá te orientar de forma específica e indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.

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