Teste de drogas: tratamentos medicinais com cannabis podem alterar o resultado?

Teste de drogas: tratamentos medicinais com cannabis podem alterar o resultado?

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Em diversas ocasiões, seja para conseguir um emprego, renovar a carteira de motorista ou até participar de competições esportivas, é preciso fazer o famoso exame toxicológico. Onde entra a cannabis medicinal nessa história? Entenda.

 

No Brasil, foram implantados os “drogômetros”. Espécie de bafômetro para drogas. Eles funcionam em rodovias federais, e podem detectar o uso de cannabis, cocaína e MDMA. A iniciativa, segundo o governo federal, tem como principal objetivo parar motoristas que dirigem sob efeitos de drogas. 

Antes de relacionar o teste de drogas com o uso da cannabis, é preciso entender em quais situações o teste é solicitado e como recorrer caso dê positivo. 

Os testes de drogas são exigidos em diversos cenários: 

  • Renovação da CNH de Categoria C, D ou E;
  • Toxicológico Periódico (teste de drogas a cada 2 anos e 6 meses para motoristas com CNH C, D ou E com idade inferior a 70 anos);
  • Concursos Públicos (Policiais Militares, Forças Armadas, Guarda Municipal, entre outros);
  • Motoristas Profissionais de Veículos Pesados – CLT;
  • Pessoas que se envolveram em acidentes com veículos a motor, embarcações ou acidentes de trabalho;
  • Pessoas que tentaram suicídio por meios não claros;
  • Pessoas em programas de tratamento ordenados pela justiça, ou em período comprobatório ou liberdade condicional que exigem abstinência (para monitorar a adesão);
  • Pessoas em um programa de tratamento para abuso de substâncias (como uma característica padrão para obter evidências objetivas sobre seu uso e, assim, melhorar o tratamento);
  • Pessoas que devem participar de um programa de testes para drogas como parte da custódia ou de direitos parentais.

Agora que as situações já foram apresentadas, o que fazer caso o teste dê positivo? 

Primeiramente, antes do teste ser feito, haverá um formulário para ser preenchido. Nele, as questões são sobre uso de drogas lícitas e ilícitas. 

É preciso ser verdadeiro. Responder tudo com o máximo de honestidade. 

No caso do THC (Tetrahidrocanabinol), basta que haja uma concentração de 0,9% no corpo, que o teste detecta como positivo. 

Caso isso aconteça, será necessário apresentar o laudo médico para provar que a porcentagem de CBD (Canabidiol) ou de THC em seu corpo vem de um tratamento médico, acompanhado de um profissional. 

Em conversa com a Cannalize, o advogado e coordenador científico da Plataforma Brasileira de Política de Drogas, Renato Filev, ele comentou sobre os possíveis testes positivos de pessoas que fazem o uso de canabinoides: 

“Os testes são variados e podem detectar uma ou mais substâncias. Geralmente, os testes que envolvem detecção toxicológica de uso de substâncias focados na cannabis buscam detectar o THC, Delta-9-THC ou o seu metabólico, que é o 11- Hidroxi-THC. Ou seja, são duas moléculas que podem ser detectáveis, mas há outros testes que fazem uma multiplicidade de detecções, como o canabidiol ou outros canabinoides”.

teste

De acordo com o pesquisador do Johns Hopkins Bayview Medical Center, Tory Spindle, a cannabis raramente é usada apenas uma vez em tratamentos medicinais, diferente de seu estudo. 

É aqui que está o problema. Segundo os pesquisadores, o THC e seus derivados podem, com o uso constante, se acumular no corpo. Assim, a chance de positivar nesses exames é alta.

Dados de outros estudos ainda alertam para erros contidos nos rótulos desses produtos. De acordo com um estudo da Universidade da Pensilvânia, 21% dos produtos de CBD/cânhamo vendidos on-line contêm THC, apesar de não estarem no rótulo. 

Embora muitas pessoas nos EUA usem produtos de CBD, a maioria não sabe que o THC pode estar nas fórmulas, disseram os pesquisadores. 

Além do THC e do CBD, um estudo feito no ano passado no Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, mostrou que o CBN também pode ser detectado nos testes de drogas, e confundido com o tetraidrocanabinol (THC), o componente da cannabis que gera os efeitos psicotrópicos da maconha.

Ao testarem alguns canabinoides em um dos exames de drogas mais comum, foi descoberto que o CBN é o canabinoide mais provável de causar um falso resultado positivo para maconha.

O teste confirmou a presença de THC até com apenas 100 ng/ml de canabinol. Estas descobertas podem ajudar na interpretação dos testes de drogas, quando o paciente utilizar o CBN como tratamento. 

O fato curioso é que o CBN não causa os efeitos do THC, ele é mais parecido com o canabidiol.

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